sexta-feira, 4 de junho de 2010

Com que roupa eu vou?

Nenhuma novidade do tipo que me faria tomar uma decisão que mudaria minha vida em meia-hora: nada de conhecer um homem biônico, onde em meio a sorrisos desconcertantes, olhos transparentes, gestos orgásticos e prosa poética eu descobrisse que a afinidade entre nós ultrapassasse o telepático; nada de ter uma mágica inspiração para escrever um romance de 200 páginas em uma semana; nada de natos conhecedores de gente descobrindo que desperdício estou sendo naquela filial do inferno; nada de um sinal divino poderoso e nítido que me motivasse a correr atrás de um desconhecido pelos trilhos do metrô, que viria me resgatar das unhas ruídas do convencional, e que eu nunca saberia explicar de onde veio aquela força estranha (até poderia entender melhor o Rei...) Nada de mensagens cósmicas enviados pelo sono; nada de ser tomada por nenhuma paz inexplicável sem ter ingerido algo alucinógeno, nada de ouvir os sinos que dobram na Itália; e nada de sonhar com um anjo com o rosto do meu pai e com a aura em tons pasteis dizendo que sou muito amada, protegida e que continua me amparando.


E nem sinal de coragem também, nem pra dirigir mais de 20 km além de minha casa, nem pra ser mais simpática com o bofe da mesa ao lado só porque ele fala errado, nem pra começar algo sem que a idéia de recomeço me aflija, nem pra desejar a desencarnação de uns e outros sem que minha criação cristã me sobrecarregue a consciência e nem para concluir este desabafo sem fugir à coesão, portanto, sem nada que lembre otimismo!

Mas como odeio histórias sem fim, e isso inclusive responde por algumas frustrações armazenadas no bolso do meu sobretudo preto de mulher autossuficiente, preciso concluir...

Acho que estou fugindo da conclusão.

Será que eu ficaria bem se trocasse meu sobretudo por um vestido esvoaçante de organdi cor de rosa bebê?

3 comentários:

  1. dias geninianos.... fases infernais ou infernos astrais que teimam nos perseguir!
    muito embora, em muitos momentos, consideramos que somos um ponto de interrogação em meio atudo que vivemos, temos que considerar que esse ponto pode-se tormar varias outras exclamações e reticencias! não precisamos de conclusões, minha conterrãnea querida... "mais importante que as respostassão as perguntas"!
    te amo!
    cris.

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  2. "Se eu ousar catar na superfície, de qualquer manhã, as palavras de um livro sem final, sem final, sem final, final..."

    Mas, miga, sobre o organdi cor de rosa bebê, te imaginei fazendo uma ponta em "Alice..." Por falar nisso, não assista.Vamos juntas ao cinema quando vier!

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  3. "Eu só liguei pra dizer 'Te amo!'"
    Quem foi que disse que se precisa de versos pra fazer poesia?
    Te vejo nua nessas linhas... e o vestido, se fosse vermelho (embora clichê), ficaria bem melhor em você.

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